Por Fabíola Fernanda Patrocínio Alves
No livro “Vigiar e punir”, Michel Foucault nos mostra por meio da sua genealogia do poder, como se deu o nascimento das prisões. Ele inicia suas discussões evidenciando que até o século XVIII, o suplício foi a principal modalidade de pena. Também conhecido como “mil mortes”, a prática de supliciar o corpo do condenado consistia em uma morte gradativa e dolorosa na qual este pedia perdão em meio à agonia pública.
Com o nascimento das prisões, Foucault evidencia outra modalidade de pena, em que os castigos físicos tornam-se secundários. Nessa nova modalidade de pena, o corpo é colocado em cum sistema de coação, obrigações e interdições que visam à privação da liberdade. Com as novas estratégias para punir, o corpo tona-se alvo de um poder disciplinar, cuja intenção é a correção. Então, trata-se de um corpo que pode ser docilizado.
Em “Vigiar e Punir”, temos a evidência de que as práticas de disciplina sobre o corpo não se propagaram apenas no interior das prisões. A escola foi, também, uma instituição analisada pelo filósofo no século XVIII. Nas práticas pedagógicas predominantes, constatamos a presença de um poder disciplinar, cujo propósito era docilizar o corpo dos estudantes. “É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado” (FOUCAULT, 2014, p. 134). O que estava em questão era um corpo vigiado, controlado e submetido a uma maquinaria de poder.
As práticas das escolas do século XVIII, analisadas por Foucault, ainda nos são muito familiares. As escolas atuais continuam a tratar os corpos dos estudantes como um alvo do poder disciplinar. Assim, estes ainda são silenciados e submetidos a uma ordem pedagógica homogeneizante. Contudo, talvez algumas perguntas sejam necessárias: Por que não problematizamos tais práticas? Por que ainda nos sentimos tão familiarizados com este modelo de escola que herdamos do século XVIII? Que efeitos estas práticas produzem na subjetividade dos estudantes? O que temos a ver com o fato de que estas práticas se tornaram naturalizadas no interior das escolas?
Referência:
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 42 ed. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2014.